Em pleno sertão nordestino, Petrolina surpreende o turista pela vastidão das terras destinadas ao plantio de frutas. Consolidada como área vinícola, a região também atrai pela sua arquitetura secular, história e pela grandiosidade da Barragem de Sobradinho
Texto: Heitor Reali Fotos: Silvia Reali
Sob o verdejante parreiral, o vigor e a fartura das uvas de Petrolina. |
É desconcertante aproximarse por ar ou por terra de Petrolina, município pernambucano às margens do Rio São Francisco. Na caatinga surgem oásis, cujo verde se destaca entre cores terrosas. De início, a paisagem parece uma transgressão da natureza, uma terra que virou a casaca. O olhar mais atento, porém, percebe enormes plantações de frutas, sobretudo uvas, mangas e melancias. Considerada por muito tempo a ovelha negra dos biomas brasileiros, a caatinga esconde uma riqueza de diversidade ainda pouco explorada.
Idéias simples irrigaram o progresso ali. Sem esperar pelas obras da tão falada transposição do Rio São Francisco, idéia da qual se ouve falar na região desde o tempo de Dom Pedro 2º, alguns empreendedores acreditaram nessa terra e resolveram virar a mesa de suas vidas aperreadas.
O Velho Chico se espantou ao ver nascer pelas mãos do setor privado uma obra que pretende levar a salvação para áreas castigadas pela seca. No começo, foram simples projetos de irrigação com extensos canais que criaram zonas de prosperidade bem ao lado de áreas ressequidas. A paisagem muda, uniformiza-se e os vinhedos e as mangueiras se afastam até se encostarem num morro ou num riacho. O clichê de imagens do áspero sertão nordestino rolou água abaixo. Respira- se prosperidade nas cidades ao redor de Petrolina que se desenvolvem graças a essas culturas.
O abre-alas foi há mais de 20 anos, quando agricultores gaúchos iniciaram ali a produção de uvas para vinho. Em pouco tempo, eles transformaram a região no segundo maior pólo vitivinicultor do Brasil. Pegando o gancho, outras lavouras também se instalaram, como a da manga, que hoje é exportada para diversos países.
NOS ÚLTIMOS SETE ANOS, de olho no crescente desenvolvimento e sobretudo com a presença marcante da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), o setor público começou a investir ali. Nesse centro de excelência se desenvolvem projetos que rompem as cascas do laboratório e vão frutificar nos novos campos agrícolas. As pesquisas se voltam para as frutas que se dão bem na região e as que têm a preferência do produtor. "Podem ser tanto a uva de mesa como a uva do vinho fino, a manga, o melão e a melancia", ensina o agrônomo e viticultor Francisco Amorim. "Todas precisam de cuidados especiais, pois seu manejo é completamente diferente." A Embrapa vai além ao capacitar a mãode- obra para o cultivo e a produção de frutas de qualidade.
Um sério obstáculo ao sucesso da iniciativa era a presença das moscas-dasfrutas. Para superá-lo, foi essencial a instalação da Biofábrica Moscamed em Juazeiro (BA), cidade vizinha a Petrolina. "As moscas-das-frutas são pragas quarentenárias e representam um dos principais problemas na exportação de frutos frescos", afirma a pesquisadora Beatriz Jordão Paranhos. "O controle químico, normalmente utilizado para o controle dessa praga, traz sérios prejuízos ao agroecossistema, ao meio ambiente e à saúde."
Para tanto, foi usada pela primeira vez no Brasil a Técnica do Inseto Estéril (TIE), um método eficaz e seguro no controle da Ceratitis capitata (principal espécie de mosca-das-frutas) nos pomares irrigados da região. Ela tem o nome vulgar de mosca-do-mediterrâneo (moscamed), de onde é originária.
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