quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Estudo: temperaturas chegarão a 52ºC até 2100



Um novo estudo climático realizado por um instituto holandês com mais de 150 anos de tradição em pesquisa de meio ambiente aponta que as temperaturas em determinadas regiões do globo poderão passar dos 50ºC nos próximos 90 anos. Até então, os estudos mais recentes determinavam que o aumento das temperaturas variariam entre 1,1ºC a 6,4ºC, o que torna o estudo holandês alarmante. 

 

 

As conclusões da equipe dirigida pelo pesquisador Andreas Sterl foram publicadas no último número da Geophysical Research Letters.
O grupo, do Instituto Meteorológico Real Holandês de Bilt, afirma que não apenas as temperaturas extremas serão mais altas do que o previsto como as suas ocorrências serão mais numerosa.
As regiões mais sensíveis a aumentos bruscos seriam a Índia, a Austrália, a África do Norte e a América do Sul. Chamado "Quando podemos esperar temperaturas extremamente altas em superfície?", o estudo se baseia em informações estatísticas coletadas após 17 simulações climáticas diferentes, e alerta que diversas regiões do planeta poderão registrar a ocorrência de temperaturas em torno dos 50º até 2100.
Na Índia, por exemplo, os termômetros devem marcar 48ºC a partir de 2050, enquanto que o sul europeu e boa parte dos Estados Unidos serão surpreendidos com 40ºC antes do final deste século.
Na América do Sul, conforme afirmou Sterl em exclusividade à reportagem Terra, as temperaturas em torno dos 45º poderão ser freqüentes próximo à linha do Equador, e a fronteira da Venezuela com a Colômbia pode ser justamente a região a apontar a mais alta marca verificada em todo o estudo: 52,9ºC.
Confira a entrevista com o diretor da pesquisa, Andreas Sterl


Que tipo de eventos contribuem para aumentar drasticamente as temperaturas em determinadas regiões?
Normalmente períodos de seca. Para termos temperaturas realmente altas, acima dos 35ºC, é preciso haver um solo ressecado. Quanto mais tempo existe umidade do solo, através da qual é possível a evaporação dos gases das plantas, existirá um meio natural respiração, e as altas temperaturas são impossíveis.
O homem, por exemplo, executa o mesmo procedimento naturalmente no seu corpo, que transpira quando a temperatura se excede aos seus 37ºC habituais.
Quando não chove por um longo período, o solo fica tão seco que a evaporação cessa. Então, toda a radiação solar vai ser usada para aquecer, ao invés de provocar a evaporação da água presente na umidade do solo. Muito altas temperaturas vão se produzir como efeito disso.
Simulações de clima, como a nossa, apontam para menos chuvas durante o verão em regiões de médias altitudes, de em média de 30 a 50 graus para o norte ou para o sul Brasília está a 15º45 ao sul e 47º57 a oeste.
Ainda por cima, a evaporação é cada vez maior, quanto maior a temperatura. Logo, esses dois efeitos juntos aumentam as chances de aquecer o solo e por conseqüência o aumento generalizado das temperaturas.

O que o homem ainda pode fazer para evitar o aumento exagerado da temperatura?
Reduzir drasticamente a emissão de CO2 e de outros gases de efeito estufa. Na verdade, se formos sinceros, essa resposta não é correta: com uma redução significativa (digamos, ao menos 50%) das emissões, a concentração de gases vai aumentar mesmo assim e as temperaturas subir igualmente. No entanto, se o homem agir logo, esse aumento pode ser mais lento.

O seu estudo nos diz que as temperaturas em alguns países podem subir a até 50ºC em 2100. Estes extremos passariam a ser as temperaturas normais nestes lugares ou seriam eventos raros que produziriam um aumento repentino e de curta duração?
Formalmente, o que estamos procurando são extremos de temperatura em 100 anos, ou a temperatura que está chegando a extremos em média uma vez a cada 100 anos, ou em outras palavras que têm chance de 1% de ocorrer em um determinado ano.
Isso soa como algo "raro", sim, mas nós temos de ter em mente que 1% ao ano significa também 10% a cada década, ou seja, temos 10% de ter essa temperatura em algum momento da década. Compare este dado à sua chance de ganhar na loteria!
Ainda por cima, e mais importante, a probabilidade de ocorrência a cada 50 anos ou em cada 20 anos é apenas um pouco mais baixa que a probabilidade de ocorrência em 100 anos.
Resumindo: sim, as extremas temperaturas são raras no sentido de que elas não ocorrerão o tempo todo e nem em todos os anos, mas não tão raras quanto nós gostaríamos.

O que o seu estudo concluiu sobre a América do Sul? Existe alguma estatística sobre a Amazônia, por exemplo?
Não especificamente. No entanto, acontece que o mais alto ponto de acordo com a nossa simulação é próximo dos 69º a oeste e 6º a norte, ou seja, na fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, onde identificamos a probabilidade de ocorrência de temperatura de até 52,9ºC em algum momento dos próximos 100 anos.
Até o momento, porém, nós não sabemos por que isso acontecerá, e inclusive não descartamos a hipótese de haver um erro no modelo. No resto da América do Sul, nossos gráficos apontam que valores típicos de temperatura serão superiores a 45ºC.

O que se pode esperar para o século seguinte a 2100 sob o aspecto das temperaturas? Elas continuarão a subir?
Nós não simulamos nada para além de 2100. No entanto, é quase certo que as temperaturas vão continuar a subir após a virada do próximo século.
Primeiro, me parece um pouco insensato pressupor que as emissões de gases vão acabar. Com altas concentrações de gases, as temperaturas vão aumentar cada vez mais também.
Segundo, mesmo que as concentrações de gases se tornem constantes após 2100, o sistema climático mundial não estaria em equilíbrio porque os oceanos demoraram muitos anos para esquentar.
Este "comprometimento de aquecimento" é estimado a 0,4ºC da temperatura global média hoje: se as emissões parassem hoje, a temperatura global média continuaria a aumentar 0,4ºC até se estabilizar.

Qual é o método de cálculo para as estatísticas?
Vou tentar explicar, é bem complicado. Nós utilizamos um modelo climático. É um programa de computador onde centenas de dados já conhecidos sobre o clima - dados atmosféricos, oceânicos, das geleiras, etc - interagem entre si em diferentes cenários.
Para dar um exemplo simples, se a umidade do ar aumenta e refresca, o vapor será condensado em gotas e vai chover, como nós sabemos. A água é, portanto, em parte drenada em direção aos rios, em parte evaporada. A evaporação esfria a temperatura, que muda a pressão atmosférica, e assim por diante.
Nós determinados, então, as concentrações de CO2 na atmosfera.
Especificamente, nós usamos o cenário SRES A1b. A grosso modo, neste cenário as emissões de CO2 continuam a crescer bastante até 2050, quando elas começam a cair ligeiramente, embora as concentrações continuem a crescer na atmosfera. Então nós deixamos o modelo calcular o desenvolvimento da temperatura entre 1950 e 2100, e repetimos este processo 17 vezes.
Com os resultados, nós obtivemos em cada ponto da superfície as temperaturas mais altas em cada ano. Esta informação da temperatura máxima anual se ajusta a uma tabela de GEV (Valores Gerais Extremos, na sigla em inglês).
A teoria matemática diz que os extremos, seja de temperaturas ou se chuvas ou ventos, acompanha os valores de acordo com a tabela GEV. A partir deste ajustamento de dados fica fácil determinar os valores das temperaturas. Nós não somente ajustamos o GEV com o modelo de resultados como também a valores atuais, a partir de observações coletadas em diversos estudos reconhecidos.
Nós então comparamos os valores do modelo-derivado para o clima atual com aqueles derivados das observações e encontramos uma grande diferença.
Então nós percebemos que essa diferença vai continuar constante - e esta é uma audaciosa suposição, eu sei − e a subtraímos do modelo de valores no final do século. São estes valores com "tendência corrigida" que apresentamos no nosso relatório.


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