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A greve dos professores da rede estadual de ensino básico da
Bahia já passa dos 50 dias. Além de 1 milhão de alunos
sem aulas, o governador da Bahia, Jaques Wagner ( PT), resolveu
cortar os salários
dos
grevistas e o movimento foi considerado ilegal pela justiça. Até a
presente data ( 01 de Junho) não houve um acordo para o fim de greve e
as
manifestações de professores, pais e alunos
na ruas de Salvador e cidades do interior são cada vez maiores. O
governador, no entanto, permanece inflexível e afirma que só abre
negociações e efetua a devolução dos salários se os professores
retornarem ao trabalho.
Para entender a greve
Em Novembro de 2011 o governo da Bahia
assinou um acordo com a categoria se comprometendo a pagar o reajuste do Piso Nacional do Magistério
– um reajuste de 22,22%, com o piso passando de R$ 1.187 para R$ 1.451. Tais
valores são definidos ( e corrigidos) de acordo o
FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica.
O governo da Bahia alega que
já paga o Piso Nacional aos professores desde 2009
e que “não há como oferecer o reajuste de 22%”. No entanto
tal "reajuste" foi concedido apenas aos professores de nível médio ou licenciatura curta – já para
os demais professores o reajuste foi de 6,5%, o mesmo para todo o
funcionalismo. Na verdade o "reajuste" a estes professores é
uma espécie de trapaça:
o que o governo fez foi transformar gratificações - e outras vantagens
adquiridas pelos professores ao longo do tempo - em subsídios.
Além disso, o governo da Bahia também afirma pagar “salários
acima de Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo”. De acordo com as
informações do site da Secretaria de Educação da Bahia, um professor com pós-graduação em
regime de 40 horas recebe R$ 3.817,00 de remuneração – um professor iniciante,
segundo o governo, recebe R$ 2.084,00.
Estes valores, infelizmente, não são verificados nos contracheques dos
professores da rede estadual. Assim temos o quadro que levou a greve a passar
dos 50 dias: o descumprimento do acordo por parte do governo da Bahia - e Wagner, ingenuamente,
afirmou "não saber" de tal documento assinado - o não
pagamento do reajuste do piso salarial para todos os professores, o
corte de salários, a
greve considerada ilegal e principalmente a intransigência do
governador Jaques Wagner.
Tudo igual na Bahia: "cabeça branca" continua.
O grupo político de Antônio Carlos Magalhães dominou a Bahia
por décadas até ser derrotado em 2006 nas eleições para governo do Estado por
Jaques Wagner, do PT. A esperança de que finalmente os baianos teriam mudanças
significativas no governo e nas políticas públicas aos poucos se tornou
frustração, principalmente em áreas como Educação e Segurança Pública. Quem é
professor na Bahia, tanto da rede básica quanto das universidades estaduais,
sabe o que é o governo Wagner – em 2011 os professores universitários
permaneceram em greve por 2 meses e em 2007 também houve
longa greve dos professores
da rede básica.
O que causa estranheza, seja em 2007, 2011 ou 2012, é a postura intransigente e
arrogante do governador Jaques Wagner, um ex-sindicalista que alçou projeção
política através de participações e
apoios a greves – e não apenas ele, mas
também muitos políticos do PT que marcavam presença em assembleias sindicais e manifestações grevistas e hoje, no
“poder”, viraram as costas, seguem o burocrático discurso oficial e há até deputado da "base governista" que
desrespeite professores - e desta vez sobrou até para
alguns pais de alunos. Em todas estas greves ocorridas durante o
mandato de Wagner houve ameaças de corte de salários ( que aconteceram, no caso dos professores) e uso de propaganda incessante
em diversas mídias ( TV e rádio, principalmente) para tentar convencer a
população de que este é um governo aberto ao diálogo e age com transparência –
e alguns jornalistas “formadores de opinião” e parte da imprensa baiana fazem
coro ao governador tentando atribuir a culpa da greve única e exclusivamente
aos professores, utilizando termos como “radicalização” (por parte dos professores), “greve ilegal”,
“alunos prejudicados” e “o governo não pode pagar”. Talvez seja receio em perder as verbas de propaganda do governo.
E o governador Jaques Wagner mantém uma característica interessante: não importa o que esteja acontecendo na Bahia -
greve da PM, greve dos professores,
a pior seca no sertão nos últimos 30 anos - a saída de Wagner é o aeroporto. Trata-se do
governador que mais viajou ao exterior no atual mandato - imaginem se ele fosse Ministro do Turismo.
Mas não tem dinheiro mesmo?
A justificativa do governador da Bahia – e de quase todos os políticos quando
se fala em verbas para a Educação – é a falta de dinheiro ou, se preferirem um
termo no “economês”, a famosa “restrição orçamentária”.
A verba do FUNDEB para a Bahia para 2012 é de
R$ 2,2 bilhões; 60% deste valor deve
ser utilizado para
remuneração dos professores. Perguntas: o que é feito deste
dinheiro? Por que o governo Jaques Wagner não é transparente quanto ao destino
desta verba? Por que tanta dificuldade em cumprir uma
Lei Federal?
Enquanto isso o governo da Bahia
comemora, sempre com muita propaganda, a escolha de
Salvador e do estádio da Fonte Nova como uma das sedes para a Copa das
Confederações em 2013 e, claro, Copa do Mundo em 2014. Ninguém se entende
quanto aos
custos do estádio: para o Tribunal de Contas da União, o valor
ultrapassa R$ 1 bilhão; para o governo federal, o valor ficará em R$ 597
milhões; e para o governo estadual, a Fonte Nova custará R$ 592 milhões. E o
mais interessante de tudo: durante 15 anos o governo da Bahia deverá pagar R$
107 milhões (por ano!) conforme previsão do contrato de parceria
público-privada. E os números para a Copa não param de impressionar: R$ 6,712
bilhões sairão dos cofres públicos para a
construção e reformas de estádios. Ah,
o “legado”? Qual foi o legado que os Jogos Pan-Americanos de 2007 deixou ao Rio
de Janeiro? Na época só se falava do “legado” e das “melhorias” que os jogos
trariam para a cidade - e pelo visto
não foi muita coisa.
Nada contra o futebol, pelo contrário, mas a pergunta permanece: não tem dinheiro mesmo?
De novo, Gustavo Mauricinho Ioschpe...
É claro que Educação de qualidade vai além da questão
salarial, mas tal questão não deve ser excluída. Como é possível que um
país
com a 6ª ou 7ª economia do mundo pague
salários tão irrisórios no magistério, desestimulando quem queira seguir
a
carreira de professor? Como falar em qualidade de ensino se os
professores precisam pular de escola em escola pela cidade para
completar carga horária estafante e assim melhorar um pouco os salários?
Entre Gustavinho Ioschpe e Paulo Freire, a escolha é óbvia: “
Se há algo que os
educandos brasileiros precisam saber, desde a mais tenra idade, é que a luta em favor do respeito aos educadores e à educação
inclui que a briga por salários menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito
deles.” ( in Pedagogia da Autonomia)
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