O brasileiro Alexandre Lopes foi selecionado um dos quatro finalistas escolhidos entre todos os estados norte-americanos para concorrer ao titulo de “Melhor Professor do Ano” dos EUA. A decisão sai daqui a três meses.
Os demais candidatos são professores do colegial nas áreas de exatas, inglês e música nos estados de Washington, Maryland e New Hampshire.
O brasileiro, único finalista professor de jardim de infância, desenvolveu um programa de inclusão que já abocanhou os prêmios de “Melhor Professor do Ano” do condado de Miami-Dade, em março, e do estado da Flórida, em julho.
Agora, o petropolitano pode se tornar o maior representante de educação dos Estados Unidos da América.
O prêmio “National Teacher of the Year” ou Melhor Professor do Ano Nacional, foi constituído em 1952 e é o mais tradicional e respeitado na área de educação aqui.
Será entregue ao finalista em abril pelas mãos do Presidente Barack Obama numa cerimônia na Casa Branca, sede do governo americano.
Nesta entrevista exclusiva ao Direto de Miami, Alexandre Lopes conta como conquistou o título estadual, como sua vida mudou no último ano desde que se tornou o “Embaixador da Educação” da Flórida e onde quer chegar.
ENTREVISTA:
Direto de Miami: Como o título de Melhor Professor do Ano da Flórida transformou sua vida?
Alexandre Lopes: É tanta mudança que é difícil saber por onde começar. Me tornei um palestrante, e em três meses, já fui o palestrante principal para um público de 300 pessoas em eventos que reúnem estudantes, catedráticos, políticos e pessoas influentes na área de educação, às vezes até mesmo da economia local. Há menos de um ano, meu público eram meus alunos de 3, 4, 5 anos de idade. Me surpreende que as pessoas queiram me escutar – escutar o que eu tenho a dizer. Fico feliz de ter me tornado uma pessoa capaz de motivar os outros, de inspirar os outros a encontrarem dentro deles o que eles tem de melhor para o mundo educacional e o mundo em geral.
DM: Qual sua mensagem principal?
AL: Sou um imigrante que vim para os Estados Unidos aos 26 anos de idade, aprendi o inglês, que não é minha língua materna. Acho que isso tem um poder muito grande, porque fala para os imigrantes deste país, dos Estados Unidos, cujos filhos estão agora também na escola e em busca do sonho americano, fala para os americanos em si que estão educando os filhos de imigrantes. Como imigrante, como latino, ter vencido, é uma mensagem muito importante.
DM: Quem era o Alexandre antes dessa premiação e quem é o Alexandre hoje?
AL: Eu sinto que cresci muito. O que me deixava feliz era trabalhar com crianças de 3 a 5 anos de idade, num sistema de inclusão total, numa área onde meus alunos eram imigrantes, minorias étnicas e raciais, estudantes com autismo em um sistema sem preconceitos. Terminei meu mestrado, estava fazendo o doutorado e trabalhava com projetos para desenvolver a qualidade de ensino. Mas eu não era uma pessoa pública. Agora represento o Departamento de Educação da Flórida. O meu título de “Embaixador para Educação” é regido pela lei do estado da Flórida.
DM: O senhor parece lidar muito bem com essa sua nova condição de pessoa pública. Como chegou intimamente a essa maturidade?
AL: Acho que é importante que as pessoas vejam que eu lutei para chegar onde estou, não só profissionalmente mas como pessoa. Eu fiz um processo terapêutico com a [psicóloga brasileira] Rosane Wechsler aqui em Miami e foi muito bom. Através de um processo de autoconhecimento, ela fez com que eu deixasse de lado incertezas e inseguranças e tivesse confiança com relação às minhas decisões e vontade de vencer, não só de uma maneira pessoal como também de forma profissional. Eu aprendi a aceitar minhas diferenças.
DM: Hoje sua voz está transformando muita coisa na área de educação.
AL: Acho que minhas ideias são um pouco inovadoras – mas a maneira pela qual eu as exponho, eu as expresso, faz com que as pessoas não se sintam intimidadas por elas.
DM: O que o senhor acha que trouxe na sua trajetória de vida para chegar nesse momento?
AL: Eu vou a luta. Não gosto de escutar quando as pessoas falam, ‘você é uma pessoa inteligente’. Você pode ser a pessoa mais inteligente do mundo, mas se você não faz seu dever de casa, você não vai chegar em lugar algum.
DM: Inclusão seria uma palavra para descrevê-lo?
AL: Seria uma inclusão gerada através de uma aceitação social. Minha luta é de uma aceitação social. Todas as pessoas tem seu potencial único e que bom que é único. O que aconteceria se não houvesse polêmica e ideias diferentes das nossas? Será que cresceríamos? Acho que é isso, uma aceitação social, total e irrestrita para que as pessoas acreditem em si, gostem de si e cheguem ao seu potencial, seja ele qual for.
DM: E foi isso que os membros do comitê de seleção da Florida viram no senhor e acha que podem ver na decisão final do titulo de professor do ano de todo o país?
AL: Acho que eles viram em mim uma pessoa capaz de inspirar nos outros e de motivar os outros a buscarem o sonho americano através da educação.
DM: E agora? Qual o futuro do Professor do Ano da Flórida de 2013, e quem sabe dos Estados Unidos?
AL: Já tive convites de filiar-me à universidades, e estou fazendo um malabarismo para terminar o doutorado o mais rápido possível. Se quiser posso voltar para sala de aula. Mas não sei se seria exatamente aonde eu faria a maior diferença. Eu já esperava que no futuro me tornaria um professor universitário, trabalhando com pesquisas e ensinando a outras pessoas o que levou a tornar-me professor do ano. Me vejo como um mediador de ideias. Acredito nas minhas ideias mas estou sempre aberto a escutar as ideias dos outros.
DM: Sete palavras para descrever um professor de sucesso:
AL: Eduque-se, informe-se, acredite-se, ame-se, apaixone-se, entregue-se e libere-se.
DM: Qual o segredo do seu sucesso?
AL: Muito esforço, auto-aceitação e amor ao próximo.
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