Geólogos
ouvidos pela Folha divergem sobre a causa do tremor de terra
que destruiu casas no município mineiro de Itacarambi. Há
quem diga que não ocorreu um terremoto no local.
Para
o geólogo Carlos Schobbenhaus, da presidência do CPRM (Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais), ligado ao Ministério de Minas
e Energia, e presidente da Sigep (Comissão Brasileira de Sítios
Geológicos e Paleobiológicos), os tremores não
foram ocasionados por um terremoto.
"Quando
anunciaram o local dos tremores, logo vi que se tratava de uma região
de calcário e cavernas. Além das cavernas que podem ser
visitadas, há outras subterrâneas em que os rios correm
por dentro dessas rochas", diz Schobbenhaus.
Segundo
ele, o efeito da água sobre as rochas causa um desmoronamento
das pedras. "A água dissolve o calcário e vai aumentando
o espaço oco dela.
Com
a dissolução das rochas, podem ocorrer abalos internos,
bem como a queda desses pedaços. A estrutura entra em colapso
e isso se reflete na superfície e cria um tremor."
Já
para Allaoua Saadi, geomorfólogo da UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), é preciso de "um desmoronamento de rochas tremendo
para causar tremores dessa magnitude". "Considerando que o sismo foi
localizado a 2.000 metros de profundidade, não há condição
nenhuma para ser ligado ao fenômeno do calcário, pois na
região os sedimentos possuem espessura de 600 metros."
"A
queda das rochas precisa ter condições de liberar uma
energia equivalente a aproximadamente 32 mil toneladas de dinamite",
afirma.
Para
Miguel Basei, geólogo da USP, não é possível
fazer especulações. As duas hipóteses, afirma,
têm que ser levadas em conta. "Se o epicentro foi no Brasil, foi
uma movimentação da falha geológica ou acomodação
associada ao abatimento do calcário em cavernas."
Na
opinião de José Roberto Barbosa, técnico em sismologia
do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas),
da USP, houve um sismo de características naturais na região,
fruto de energias e tensões que foram sendo acumuladas ao longo
dos anos.
Entretanto,
Barbosa diz que somente os geólogos que acompanham de perto o
local podem dizer se houve, por exemplo, desmoronamento de um teto de
caverna.
O
geólogo Cristiano Chimpliganond, da UnB, que visitou a comunidade
de Caraíbas ontem à tarde, afirmou que nenhuma das hipóteses
pode ser descartada. "É interessante que tenha surgido esse debate.
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