A história desse mosquito no Brasil provavelmente começa com os navios negreiros, mas só há exatos 100 anos um homem, Oswaldo Cruz, resolveu combatê-lo frontalmente. Antes disso a atenção concentrava-se exclusivamente numa doença grave com elevado número de óbitos: a febre amarela.
O cientista cubano Carlos Finlay havia demonstrado que essa doença era transmitida pelo Stegomyia fasciata, hoje conhecido como Ae. aegypti, o que fora confirmado por Walter Reed, pesquisador norte-americano. Enquanto muitos cientistas ainda discutiam o assunto, Emilio Ribas em pequenas cidades de São Paulo e Oswaldo Cruz no Rio, convencidos pela experiência cubana, conseguiram demonstrar a eficácia da luta contra o vetor em campo: uma das mais belas vitórias sanitárias de todos os tempos.
A economia agrário-exportadora do fim do século XIX e início do XX dependia centralmente dos portos de Santos e do Rio de Janeiro. A febre amarela era endêmica na capital brasileira, com as oscilações semelhantes às da dengue descritas acima. Os estrangeiros que aqui chegavam, sem imunidade alguma, desenvolviam quadro grave de elevada letalidade. Assim, tripulações inteiras foram atacadas, navios abandonados na baia, apareceram cemitérios de ingleses, por exemplo. O Lombardia, navio de guerra italiano em visita oficial de cortesia, seria abandonado na baia da Guanabara. Na virada do século navios de várias bandeiras recusavam-se a aqui aportar. Por isso a higienização toma vulto na república e Rodrigues Alves dá força total ao jovem Oswaldo Cruz.
Em 1902 ocorreram mais de 900 óbitos por febre amarela no Rio, em 1908 ocorreram os últimos 4 daquela fase, graças à caçada às larvas dos mosquitos e isolamento com telamento dos doentes - afinal não havia inseticidas (aparecem na segunda grande guerra) para o combate às formas adultas (aladas).
O trabalho, sem mídia televisiva ou rádio, foi realizado por 2.500 guardas sanitários. A população do Rio era de cerca de 700 mil habitantes. Grosso modo, portanto, 100 anos depois nossa população é 10 vezes maior.
Mas o mosquito não foi erradicado do país e, portanto, voltaríamos a ter no Rio uma epidemia no final da década de 20. Na era Vargas, a luta pela erradicação se tornou nacional e nos anos cinqüenta conseguimos ser certificados por observadores estrangeiros como livres do Aedes aegypti.
Mas outras coisas estavam acontecendo na década de 40: a industrialização e urbanização acelerada do país. Paralelamente ao combate doméstico facilitado por novas técnicas, surgiam novos criadouros de mosquitos de extrema eficiência do ponto de vista do mosquito, disseminados pela indústria automobilística: pneus e ferros velhos.
Não durou muito a erradicação. Em 1967, Leônidas Deane detectaria o Ae. aegypti em Belém (provavelmente trazido do Caribe em pneus contrabandeados). Em 1974 já infestava Salvador, chegando ao Estado do Rio no final da década de 70. Em 1986, em Nova Iguaçu, 28% dos domicílios e 100% das borracharias da via Dutra tinham larvas do mosquito.
*Eduardo Costa é diretor de Farmanguinhos, unidade da Fiocruz
De origem espanhola, a palavra dengue significa "melindre", "manha", estado em que se encontra a pessoa contaminada pelo arbovírus (abreviatura do inglês de arthropod-bornvirus, vírus oriundo dos artrópodos), no caso,é encontrado na fêmea do mosquito Aedes aegypti ou na do Aedes albopictus, esse último conhecido como "tigre asiático" .
Esse vírus está presente no Brasil desde 1982 na forma benigna, mas a partir de 1990 têm sido registrados alguns casos de dengue hemorrágica, que pode levar à morte.
No Brasil, o agente transmissor da dengue é o Aedes aegypti , um mosquito pequeno, delgado e escuro, que possui hábitos diurnos e vive dentro ou nas proximidades das habitações urbanas. Sua reprodução ocorre em locais de água parada, como lagos, poças de água e água contida em garrafas, vasos, pneus velhos jogados em quintais.
Sintomas
Após um período de incubação de alguns dias, a doença manifesta-se desencadeando uma febre súbita, acompanhada de fortes dores musculares e nas articulações ósseas - daí o nome popular de "quebra-ossos". Surgem manchas avermelhadas no corpo, dores de cabeça e nítida sensação de cansaço, além de fotofobia (aversão à luz), lacrimação, inflamação na garganta e sangramento na boca e nariz.
Não existe tratamento especial para a doença, mas é indispensável os seguintes cuidados: manter-se em repouso; beber muito líquido e, quando indicado por médicos, o uso de medicamentos para alívio das dores e interrupção do estado febril, porém nunca medicamentos que contenham ácido acetil salicílico, como a Aspirina e o AAS.
A foto mostra uma célula de mosquito Aedes aegypti. Os vírus são os pequenos pontos pretos localizados dentro de vesículas, na parte inferior da imagem.
Profilaxia
Eliminar os focos de reprodução como retirar água parada no interior de garrafas, pneus e vasos; tampar caixas-d'água; usar tela protetora em janelas e portas para impedir o acesso do mosquito (em residências próximas a lagos, rios e represas); usar inseticida e desinfetantes domésticos, que embora não eliminam, podem diminuir a presença dos mosquitos.
Como existem variedades de vírus causadores da dengue, a pessoa infectada só adquire imunidade à variedade que adquiriu.
É importante distinguir o dengue clássico do hemorrágico, que tem no presente momento relatos de óbitos no Rio de Janeiro (04/98), e que está provavelmente ligado a um mecanismo imunológico.
Saiba mais sobre a dengue hemorrágica: " Parece estar ligado a um mecanismo imunológico decorrente de sensibilização prévia, onde, em uma segunda infecção, os anticorpos tipo Ig G, subneutralizantes para outros sorotipos, formariam imunocomplexos com o antígeno circulante, afetando profundamente as membranas plasmáticas dos fagócitos mononucleares e facilitando a migração dos antígenos virais aos tecidos da medula óssea, fígado, baço e gânglios linfático. Podem, também, provocar hemorragias digestivas, distúrbios de coagulação sanguínea, trombocitopenia e coagulação intravascular disseminada, levando ao óbito."
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