segunda-feira, 6 de setembro de 2010

           

         O sertanejo já castigado pela seca passa agora por mais uma provação. Não bastassem os intermináveis períodos de estiagem, um mal muito maior vem se espalhando pelo Semi-Árido nordestino. E deixa seu rastro de destruição, transformando terras férteis em solos esturricados, onde nem a vegetação rasteira da caatinga sobrevive. A desertificação avança como uma verdadeira praga pelo Nordeste. Com efeitos mais devastadores do que a própria seca. Tira do solo a capacidade de produzir, de gerar riquezas. Um fenômeno influenciado pelo clima seco das regiões semi-áridas, mas provocado, sobretudo, pela ação desastrosa do homem no contato com a terra. 

            A grande mancha de terra morta que se espalha pelo Sertão já corresponde a 18 mil quilômetros quadrados - quase o tamanho do estado de Sergipe. Uma área dez vezes maior segue pelo mesmo caminho. O risco de o Nordeste virar um grande deserto assusta, mas, na realidade, a ameaça é ainda pior. Nas regiões desérticas as terras são férteis, com vegetação rica e grande variedade de fauna. Nas desertificadas, a desolação é total. Nem as chuvas conseguem fazer a planta brotar no solo degradado. 

            No cenário devastado, a vida miserável das populações atingidas pelo fenômeno impressiona mais do que a paisagem. Durante dez dias, uma equipe do Jornal do Commercio viajou pelos quatro núcleos de desertificação do Brasil e, em todos eles, a falta de terra boa para o plantio desenha o mesmo quadro de pobreza e sofrimento. Castigados pelo fenômeno, os moradores de Gilbués (PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e da região do Seridó (RN/PB) já perderam a esperança de ver a terra seca voltar a germinar. Quem mais sente os efeitos da desertificação são as populações da zona rural. Sem ter a quem recorrer, os agricultores abandonam suas casas e vão procurar na cidade a sobrevivência que não conseguem mais tirar da terra. 

            Mas, se no Brasil a desertificação avança por quase todo o Nordeste, no resto do mundo a história não é muito diferente. Por ano, 60 mil quilômetros quadrados de solos férteis são perdidos por causa da ocupação desordenada do solo, dos desmatamentos e das queimadas. Um problema que atinge países ricos e pobres e que, de tão grave, forçou a criação de uma convenção internacional para combater seus efeitos. A partir de amanhã, Pernambuco se transforma no principal palco dessas discussões, com a abertura da 3ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e Seca. 
            Realizado no Centro de Convenções, o encontro vai reunir três mil pessoas, entre ministros de Estado, diplomatas, representantes de agências de financiamento, organizações não-governamentais e especialistas. Um evento que, para o Brasil, assim como os demais países pobres afetados pela desertificação, pode representar a ajuda financeira para ações de combate ao problema que já deviam ter sido iniciadas há muito tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Geografia e o surto de COVID-19

A geografia está desempenhando um papel importante na luta contra o vírus SARS-CoV-2, o qual causa a enfermidade COVID-19 p...